Longe de casa, em Gaza, o peregrino palestino Mohammed Shehade disse que a rara oportunidade que teve de realizar o Hajj está ofuscada pelo medo por sua família, presa no território devastado pela guerra.
O engenheiro de 38 anos obteve permissão para sair, pois buscava tratamento oncológico no Egito, mas as autoridades do regime israelense proibiram que sua família o acompanhasse.
Ele afirmou que sua saída da Faixa de Gaza, em fevereiro, representou “a oportunidade de uma vida” para solicitar a participação na peregrinação anual, que começa nesta quarta-feira.
Mas mesmo enquanto visitava os locais sagrados na cidade saudita de Meca, seu coração permanecia pesado com pensamentos sobre sua esposa e quatro filhos, presos em Gaza sob bombardeios incessantes.
“Este é o maior sofrimento da vida, estar longe da sua família”, disse Shehade à AFP, numa estrada que leva à Grande Mesquita de Meca.
Ele está entre as centenas de gazenses que irão realizar os ritos mais sagrados do Islã ao lado de mais de um milhão de fiéis de todo o mundo.
Enquanto os peregrinos vestidos de branco passavam, Shehade disse que tem orado dia e noite para que a guerra em Gaza termine e ele possa se reunir com sua família.
“Você pode estar no melhor lugar do mundo, mas, se estiver longe da sua família, nunca será feliz”, declarou.
Entre dois fogos
Israel tem atacado Gaza de forma implacável desde 7 de outubro de 2023, interrompendo sua ofensiva militar devastadora apenas durante duas tréguas de curta duração.
Deixar Gaza tornou-se praticamente impossível para a maioria dos habitantes, mas alguns, como Shehade, foram evacuados por motivos médicos.
“Aqui estou eu, me preparando para realizar o Hajj, mas há coisas sobre as quais não posso falar. Se eu falar, vou chorar”, disse, com lágrimas começando a se formar nos olhos.
Shehade saiu de Gaza durante uma trégua, mas Israel desde então retomou sua intensa campanha de bombardeios e bloqueou as entregas de ajuda, com as Nações Unidas alertando para o risco de fome generalizada.
“Quando saí, estava entre dois fogos”, disse Shehade, sobre a difícil escolha entre viajar para uma cirurgia essencial ou permanecer com sua família.
O Ministério da Saúde em Gaza informou, no domingo, que pelo menos 4.149 pessoas foram mortas no território desde que Israel retomou sua ofensiva em 18 de março, elevando o total de mortos na guerra para 54.418, a maioria civis.
Orações pela paz
Cerca de 1.350 gazenses, a maioria residente no Egito, além de outros 500 convidados como hóspedes do rei saudita, irão realizar o Hajj este ano, segundo autoridades palestinas.
Um peregrino gazense, Rajaee Rajeh al-Kahlout, de 48 anos, fugiu do território palestino para o Egito com seus quatro filhos e sua esposa sete meses após o início da guerra.
Sua casa foi destruída e seu negócio de importação e exportação ficou arruinado.
Embora o Hajj normalmente seja uma fonte de alegria, Kahlout disse que não consegue pensar em celebrações.
“Toda a minha família, minhas irmãs e meus irmãos, ainda estão em Gaza... A cada momento, tememos por eles”, disse à AFP, pedindo aos peregrinos que orem pelo fim da guerra e pela reunião com seus entes queridos.
“Gostaria de ter vindo aqui em tempos melhores, sem guerra, morte e destruição.”
No saguão do hotel Al-Nuzha Plus, em Meca, onde os peregrinos de Gaza estão hospedados, uma viúva de 60 anos contou à AFP que não vê seus 10 filhos desde que foi evacuada por motivos médicos no ano passado.
Ela disse que está orando pelas "crianças da Palestina" que sofrem com a fome e o conflito.
“Tudo o que penso é em Gaza, toda a minha vida está lá: meus filhos, minha casa... Quero voltar.”
https://iqna.ir/en/news/3493301