A ascensão rápida do Oriente Médio no mercado de arte é evidente, como se vê no aumento dos investimentos da região em casas de leilões e na promoção de vendas importantes. Mas e quanto à arte da própria região e das culturas que ali habitaram ao longo de milênios de rica história?
No dia 30 de abril, a Sotheby’s Londres realizará a venda intitulada Artes do Mundo Islâmico e da Índia, que contará com diversos livros, obras de arte e antiguidades oriundos dessa parte do mundo. Com um total de 181 lotes, a coleção abrange uma grande variedade de culturas, períodos e formas artísticas, unidas por uma vasta ligação geográfica.
Seguindo uma tendência recente de textos religiosos apresentarem bom desempenho em leilões, quatro dos cinco principais lotes estão relacionados ao Alcorão. Entre eles, o destaque é um grande Alcorão Mameluco do final da década de 1470, avaliado entre £300.000 e £500.000 (cerca de US$ 397.000 a 662.000).
Outros itens de destaque incluem um castiçal de bronze com detalhes em ouro e prata, um raro azulejo de Raqqa da primeira metade do século XIII, uma caixa de madeira e osso do período muçulmano na Espanha, e um astrolábio de latão do Marrocos.
O Sultanato Mameluco (1250–1517) foi um vasto império que, em seu auge, dominava desde o que hoje é o sul da Turquia até o Egito moderno. Além de seu peso geopolítico e histórico, os Mamelucos eram conhecidos por sua cultura e arte, especialmente nas artes decorativas como o vidro, têxteis e marcenaria, todos muito valorizados ao redor do Mediterrâneo.
Entretanto, talvez a forma mais conhecida e louvada da arte mameluca fossem os manuscritos decorativos, especialmente os do Alcorão. Produzidos principalmente no Cairo, Damasco e Alepo, esses manuscritos eram ricos em iluminação — técnica que envolve decorações e ilustrações ao redor do texto.
Esses manuscritos geralmente apresentavam motivos geométricos em forma de estrelas ou hexágonos, rolagens douradas e margens largas. Alguns eram de tamanho monumental, chegando a medir até 105 cm de altura.
Este lote específico apresenta diversos elementos decorativos, com partes do texto escritas em naskh, uma antiga forma de caligrafia islâmica, e outras em thuluth, estilo comumente usado como decoração em mesquitas. As páginas são ricamente ornamentadas com dourado, vermelho e azul, organizadas em padrões nos quais as palavras se integram harmonicamente.
O que diferencia este manuscrito de outros exemplares do Alcorão é a sua origem: Muhammad Abu al-Fadl ibn ‘Abd al-Wahhab al-A’raj foi um escriba e copista que trabalhou para o sultão Al-Ashraf Qansuh al-Ghawri (r. 1501–1516). Diversas obras suas são altamente valorizadas, com nove manuscritos preservados no Palácio Topkapi, em Istambul.
O sultão era um grande patrono das artes e utilizava essas expressões culturais como ferramenta política para melhorar sua imagem pública e recompensar aliados fiéis. Ele também supervisionou reformas nas cidades sagradas de Meca e Medina, sob domínio mameluco.
Alcorões como este frequentemente eram comissionados pelo próprio sultão, e muitos de grande escala já foram leiloados nos últimos anos. Um exemplo é o manuscrito produzido pelo escriba Tanam al-Najmi, de 1489, vendido pela Christie's Londres em 2 de maio de 2019 por cerca de £3,7 milhões (aproximadamente US$ 4,9 milhões), com estimativa inicial semelhante à deste lote atual.
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