A Casa Branca anunciou um plano de 20 pontos para encerrar o genocídio israelense em Gaza após conversas entre o presidente dos EUA Donald Trump e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na segunda-feira. A proposta, apresentada em uma coletiva de imprensa conjunta em Washington, promete uma retirada gradual israelense de Gaza uma vez que o Hamas seja desarmado, e promete uma interrupção imediata dos combates.
O plano inclui várias condições. Entre elas estão a libertação de todos os cativos israelenses dentro de 72 horas, a desmilitarização de Gaza e a introdução de forças internacionais ou árabes de manutenção da paz. A supervisão ficaria a cargo de um novo "Conselho da Paz" composto por líderes de Israel, EUA e países árabes regionais.
A guerra genocida de Israel em Gaza, em andamento desde outubro de 2023, já matou mais de 66.000 palestinos e deixou mais de 167.000 pessoas feridas.
Trump enfatizou seu apoio a Israel durante o anúncio, novamente rejeitando a ideia de um Estado palestino e reafirmando seu reconhecimento da ocupada al-Quds como capital do regime israelense.
Netanyahu acolheu a proposta, enquanto a Autoridade Palestina (AP) na Cisjordânia e vários governos árabes expressaram aprovação cautelosa. O Hamas disse que estava revisando o plano "de boa fé", mas o movimento Jihad Islâmica Palestina (JIP) o condenou completamente como "uma receita para explodir a região".
Contra esse pano de fundo, Rami Abu Zubaydah, analista de assuntos militares e de segurança, ofereceu uma leitura crítica do plano em um comentário veiculado pela mídia palestina. Ele escreveu que a iniciativa não deve ser vista como uma solução final, mas como um "novo modelo de gestão de crises" projetado para reengenheirar a ordem política e de segurança de Gaza.
"A essência deste plano", argumentou Abu Zubaydah, "é mover a equação de ocupação versus resistência para gestão de segurança internacional".
Ele alertou que a troca central—desarmamento em troca da retirada israelense—cria riscos sérios para os palestinos. Ao tornar a retirada condicional, ele explicou, Israel mantém a opção de interromper ou reverter sua retirada sempre que alegar que as medidas de desarmamento falharam ou que o monitoramento entrou em colapso.
Abu Zubaydah alertou ainda que a estrutura introduz novos pretextos para operações israelenses renovadas. "Qualquer falha no processo de monitoramento, ou um incidente de campo como a descoberta de valas comuns, explosivos remanescentes ou confrontos locais, poderia ser usado como justificativa para retomar o bombardeio", ele observou.
Forças internacionais, ele acrescentou, frequentemente carecem tanto do mandato quanto da capacidade de responder rapidamente em tais circunstâncias, deixando Gaza vulnerável.
O analista também questionou a neutralidade dos pacificadores propostos. Segundo ele, a inserção de forças internacionais ou árabes poderia "na prática se tornar uma extensão do sistema de segurança israelense" através de coordenação de inteligência e alinhamento operacional. Isso, ele disse, erodiria a eficácia de campo dos grupos de resistência palestinos e inclinaria ainda mais o equilíbrio a favor de Israel.
Além do campo de batalha, Abu Zubaydah chamou atenção para potenciais consequências legais e políticas. Ele alertou que rotular a resistência como terrorismo sob o direito internacional poderia abrir caminho para prisões generalizadas e operações direcionadas contra líderes e ativistas palestinos.
"O perigo não está apenas em restringir armas", ele escreveu, "mas em criar uma nova estrutura política e legal que pode transformar Gaza em um território sob supervisão internacional permanente".
Abu Zubaydah concluiu que a iniciativa de Trump não deve ser confundida com um plano de paz. Em vez disso, ele disse, equivale a "a imposição de tutela internacional ou regional sobre Gaza, privando a sociedade palestina e os movimentos de resistência de ferramentas de tomada de decisão e legitimidade".
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